O que muitas empresas ainda não se deram conta.

“O sucesso de uma empresa deve ser medido pelo impacto que ela causa na vida das pessoas, e não pelo seu resultado financeiro.”

Foi essa frase que me despertou o interesse em ler o resto de uma reportagem da revista Exame. Nunca tinha parado para pensar dessa forma, mas fazia todo o sentido. Qual deveria ser o maior interesse das empresas? Sempre achei que só ganhar dinheiro era um propósito muito pequeno para tamanho esforço dos executivos.

Busquei outras informações sobre o entrevistado, Raj Sisodia, e acabei chegando a um livro bem bacana, O segredo das empresas mais queridas, que, além de Sisodia, também tem como autores David B. Wolfe e Jagdish N. Sheth.

O livro de 277 páginas foi devorado em 3 dias! Ele traz muitas informações que me abriram a mente para o mundo dos negócios. Acho que muitas empresas ainda não se deram conta de que entramos numa nova era: a da transcendência!

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“A era da transcendência é um movimento cultural no qual as influências físicas (materialistas) que dominaram a cultura no século XX encontram-se em declínio, enquanto que influências metafísicas (experimentais) ganham vigor.” (Página xxvi – prólogo.) E isso só foi possível em razão de dois acontecimentos: o surgimento da internet e o aumento da população de pessoas mais velhas, que têm uma perspectiva “melhor e mais humana”. Em outro post, mostramos como a geração Y tem o poder de influenciar os mais velhos em suas formas de consumo. Esse livro deixa clara, em contrapartida, a influência dos mais velhos sobre os mais novos, na busca por qualidade de vida.

Com a internet, o poder da informação sai do controle das empresas. Agora, o trânsito de informações acontece por meio de relacionamentos virtuais entre pessoas, com os mais diversos papéis dentro dos chamados stakeholders: clientes, funcionários, fornecedores, acionistas e comunidade.

O mais interessante é que as empresas mais queridas buscam agradar a todos os stakeholders de forma equivalente. Ou seja, nesses casos, ninguém é tratado como mais importante que os outros. Muitas empresas não conseguem prestar um bom atendimento porque estão com o foco voltado apenas para os acionistas. Ou seja, lucro, lucro e lucro para agradar somente a um grupo. Danem-se os funcionários, as comunidades, os fornecedores e, por fim, o cliente.

Para quem não sabe como funciona o mundo corporativo, é muito comum uma empresa (“não querida”, diga-se de passagem) suspender todos os pagamentos na véspera de fechamento de exercício contábil, para poder reter o maior volume possível em caixa, e mostrar um balanço positivo. Assim, ela conquista mais valor no mundo das ações. Mas esquece que, com cada pagamento suspenso, afeta a contabilidade do fornecedor, que, por sua vez, tem uma folha de pagamento que sustenta várias famílias.

Todo mundo já sabe o quão importante é a opinião dos funcionários a respeito dos produtos (ou serviços) da empresa. Quando não se sentem valorizados, os funcionários não a indicam para seus amigos e familiares. Mesmo assim, muitas empresas (de novo as não queridas) mantêm formas de bonificação milionárias para seus diretores, enquanto pagam o mínimo possível para os demais funcionários, quando não os demitem, pensando em redução de custos. As empresas “queridas” perceberam que é mais rentável pagar aos seus funcionários um salário superior ao da concorrência, porque isso garante mais produtividade e menos rotatividade, garantindo mais qualificação. Somente funcionários felizes poderão atender bem seu cliente.

Recentemente tivemos um escândalo com uma montadora alemã que instalou, em seus carros, um software que apontava um resultado (falso) de emissão de carbono que estivesse dentro das leis europeias. Quando a farsa veio à tona, a empresa demonstrou total falta de preocupação com o meio ambiente, o que levou ao fim da credibilidade ética de seus executivos.

Neste mundo de hoje, com tanta informação circulando, as empresas não conseguem mais preservar muitos segredos. “Estamos adentrando a extraordinária era da transparência, na qual as empresas devem, pela primeira vez, se fazer totalmente visíveis para os acionistas, clientes, empregados, parceiros e para a sociedade. Dados financeiros, queixas dos empregados, memorandos internos, desastres ambientais, falhas do produto, protestos internacionais, escândalos e políticas, boas e más notícias: tudo pode ser visto por alguém que saiba onde procurar.” (Página 232.)

O que os autores chamam de capitalismo consciente, eu chamaria de estratégia inteligente. Num mundo onde as pessoas dão mais ênfase ao ser e não mais ao ter, criar uma conexão emocional com a marca é fundamental. Podemos dizer que o mercado do século XXI está mais exigente com as empresas. Ele exige foco na preocupação com as pessoas. E eu apoio totalmente essa ideia!

Agora, querido leitor, desafio você a pensar nas empresas que, para você, são “queridas”. Os autores do livro (editado em 2008) listam algumas, mas todas do mercado americano. Eu fiz essa reflexão, e encontrei apenas duas aqui no Brasil. Muito pouco, né? Você encontrou mais que isso? Ah! Diga quais são nos comentários.

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