A melhor IA do mundo não vai tornar uma empresa mais humana
É muito comum assistir a vídeos na internet que mostram dinâmicas para reforçar a integração da equipe. É preciso confiar no outro para se alcançar o resultado. Eu mesma já participei muito dessas integrações ao longo da minha carreira e sempre adorei. Mas o que está acontecendo com a humanização nas empresas?
No meio da supervalorização da Inteligência Artificial (IA), hoje o assunto é sobre humanização nas empresas. Deixo claro desde já que, embora a IA seja preocupante sob o aspecto econômico-social, podemos conviver em harmonia (desde que usada de forma consciente, é claro!).
O que me inspirou a escrever esse artigo foi algo que está acontecendo com a minha família. Meu pai perdeu repentinamente os movimentos das pernas. Um certo dia ele acordou sem conseguir andar. E foi neste momento que mais senti a falta do lado humano em todas as experiências que sucederam.
Foram dias esperando resultado de exames, descartando cada possibilidade de uma longa lista de doenças possíveis, até o diagnóstico: compressão da medula entre as vértebras C3 e C6.
A forma como foi explicada a situação a toda a família não foi muito boa. Primeiramente, meu pai não estava nem um pouco confortável na enfermaria, aguardando leito. O médico que deu diagnóstico se recusou a falar com o clínico neurologista que atendia meu pai (antes disso tudo acontecer). Deu a notícia, virou as costas e foi embora. Depois pensou um pouco e voltou ao quarto para atender ao nosso pedido. Aliás, a cirurgia já estava marcada para a manhã seguinte.
Num momento de alta carga emocional, onde a incerteza amedronta qualquer ser vivo, os médicos deveriam ter a sua “Inteligência Emocional” programada para ter empatia. Ele estava lidando com um senhor que durante seus 84 anos teve mobilidade e independência todos os santos dias de sua existência.
Na consulta pós-cirúrgica às 7h da manhã, o médico chegou às 7h40. Mal olhou para nós. Ficou o tempo todo em silêncio lendo o prontuário do paciente. Pediu para meu pai fazer alguns movimentos, e disse que poderíamos ir embora. Meu pai fez a pergunta que se faz a todo instante: “Vou voltar a andar? Sei que voce vai falar que depende, mas eu preciso saber quais as chances que tenho…”.
O médico fixa o olhar nele e responde: “me parece óbvio que voce já sabe a resposta. Sim, depende!”.
Acredito que seja totalmente humano que, quando a estrutura emocional fica abalada, falte foco em outras áreas de nossas vidas. E como foi levar a vida com tudo isso acontecendo? Houve noites mal dormidas, falta de apetite e momentos de muita conexão com o lado espiritual. Era um preocupado em não desabar para dar forças aos demais. Igual às dinâmicas que as empresas aplicam em seus funcionários.
A melhor IA do mundo não vai tornar uma empresa mais humana. Ela só se torna humana quando valoriza e considera a emoção das pessoas, sejam clientes, colaboradores ou fornecedores. Fica aqui a pergunta: quando foi que as empresas deixaram seu lado humano para supervalorizar a inteligência artificial?