Meu cão era um estressado!
Zequinha era meu maltês de 12 anos. Não é tanta idade para um cãozinho, mas o Zé (como o chamávamos carinhosamente) era portador de uma doença chamada hiperadrenocorticismo. Trata-se de uma doença endócrina que eleva o cortisol, hormônio do stress. Cientificamente, o Zé era um estressado.
Por causa da doença, Zequinha sentia uma fome incontrolável. Comida com tanta veracidade que até engasgava. Mas éramos rigorosos na quantidade de comida, para que a glicemia não ultrapassasse índices perigosos. Ele era usuário de insulina (2 vezes por dia, religiosamente às 8h e às 20h todos os dias) e de medicamentos controlados. Apesar de cego, se guiava pelo cheiro de comida. Era muito comum ver o danado revirando cestos de lixo, mesmo quando estávamos em lugar desconhecido por ele. O bicho era inteligente, viu?
Numa certa manhã, percebi que ele estava sem fome. O quê? O Zé sem fome? Deve ser muito grave isso! Foi quando percebi que meu amigo estava me deixando.
– Zequinha, talvez tenha chegado o seu dia. Se for realmente isso, te peço para não ir sem se despedir de mim. – Eu disse, olhando nos seus olhos. E fui trabalhar.
Quem disse que trabalhei em paz? A imagem da carinha dele atrapalhava minha concentração. Como pude deixá-lo sozinho? Mas, ao mesmo tempo, tinha que acompanhar a diretoria numa visita a campo. Toda a equipe estava se preparando para esse evento havia dias. Assim que pude, voltei para casa, mais cedo que de costume.
Encontrei o Zé ainda com vida. Mas ele não estava nada bem.
– Zé! Cheguei, Zé! Vou ficar com você! Vou te levar no veterinário. Calma, Zé. Vai dar tudo certo! – Disse enquanto o pegava em meus braços e corria ao veterinário.
O trânsito estava infernal! E não teve jeito. Zequinha olhou para mim, abanou o rabo e se foi.
O momento foi tão intenso que, sinceramente, não sei dizer em que lugar do percurso até o veterinário ele se despediu de mim. Segurando seu corpinho em meus braços, eu chorava pedindo desculpas.
O veterinário depois me explicou que, mesmo que eu tivesse chegado mais cedo, não havia mais nada a fazer. Ele estava anêmico: embora se alimentasse, seu corpo não absorvia mais os nutrientes. O intestino não funcionava mais.
Apesar da dor, me despedi do Zé, agradecendo por todos os anos que passamos juntos, por todas as alegrias que ele me deu.
Levei alguns dias para me adaptar a sua ausência. Mesmo sem precisar, acordava cedo, por estar habituada a aplicar a insulina nele todas as manhãs. Só que, agora, eu acordava em vão.
Foi quando decidimos buscar outro cãozinho. Dar uma outra companhia para nosso outro pet. Sim, antes tínhamos o Zé e o Sunny. Agora temos o Sunny e o Joe.
Vida que segue. Tudo estava indo muito bem até eu receber um e-mail marketing da clínica aonde sempre levei o Zequinha e o Sunny. O e-mail dizia:
“Caro(a) Claudia, gostaríamos de lembrar que o ZEQUINHA (ficha 3089) tem um reforço de sua vacina marcado para a data 21/07/2015. Solicitamos, portanto, a confirmação dessa vacinação por telefone, através do número xxxx-xxxx”.
Todos os anos eu recebia esse e-mail. Mas recebê-lo 12 dias após eles terem colhido o corpo do Zequinha foi totalmente desnecessário.
Agora vamos deixar a emoção de lado e pensar em como ajudar essa clínica veterinária. Primeiro, criar um procedimento de atualização das fichas cadastrais dos bichinhos. Tenho certeza de que a ficha 3089 tem dados relevantes do Zequinha, como a data de nascimento. Pois coloquem também a data de óbito. E por que não fizeram isso na noite em que eu levei o corpo do Zé?
Aproveite, e envie um cartão expressando os mais sinceros pêsames. Diga ao proprietário que eles são testemunha de todo o carinho que foi dado ao cachorrinho, durante todos esses anos em que eu o levei lá. E que o Zé foi um cachorrinho muito feliz.
Viu, só? Bem melhor, não? Claro que vou continuar levando o Sunny e o Joe nessa clínica. Apesar de tudo, eles sempre nos trataram muito bem e com profissionalismo… Só podiam ficar sem essa, né? O que era para melhorar o serviço ao cliente poderia pôr um ponto final nessa relação.